Alfabetización
en la Educación Sordos: Los ciudadanos de ahora
construyendo Un Mañana
Letramento na Educação de Surdos: Cidadãos do agora construindo Um Amanhã
Recibido: 16 de diciembre 2019
Evaluado: 17 de febrero 2020
Aceptado: 15 de mayo 2020
Artur Maciel de Oliveira Neto
https://orcid.org/0000-0001-7063-2204
Universidad Autónoma de Asunción, Paraguai
Ana Lúcia de Oliveira Aguiar
https://orcid.org/0000-0003-3626-2427
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Brasil
Daniel Gonzaléz Gonzaléz
https://orcid.org/0000-0001-7311-5819
Universidad de Granada, Espanh
Como citar el artículo
de Oliveira Neto, A., de
Oliveira Aguiar, A., & Gonzaléz Gonzaléz, D. (2020). Letramento na educação de surdos: cidadãos do agora construindo um amanhã. Revista EDUCA
UMCH, (15), 03-12 https://doi.org/10.35756/educaumch.202015.128
Resumo
O presente artigo objetivou compreender o que os professores dizem sobre as suas práticas de alfabetizar letrando. Para tal discorremos sobre a historicidade da alfabetização, sobre o que seria a alfabetização e letramento procurando trazer fundamentos teóricos atuais sobre o processo da aquisição da leitura e da escrita por alunos surdos matriculados na Educação Infantil e no Ensino Fundamental I. Abordamos ainda o sujeito da escrita e do letramento e o papel do professor alfabetizador-letrador. A pesquisa foi desenvolvida com dois professores e um apoio pedagógico do CAS Mossoró, pois os mesmos trabalham com o atendimento educacional especializado a alunos surdos matriculados na modalidade de Educação da rede municipal de ensino de Mossoró/RN. A pesquisa será de cunho qualitativo, utilizaremos como instrumentos de coleta de dados questionários e entrevistas, buscando a partir do que dizem respostas aproximadas a sua pratica de alfabetização. O estudo trouxe como aproximações que processo de ensino e aprendizagem do alfabetizar ocorre ainda de maneira linear, quando tratam do significado desse processo na sua prática, o que se mostra como uma compreensão híbrida, pelo desconhecimento que apresentam no sentido de a articulação necessária entre os dois processos.
Palavras-chave: Alfabetização; Letramento; Professores; Educação de surdos.
Abstract
This article aimed to understand what teachers
say about their literacy skills. To this end, we discuss the historicity of
literacy, about what literacy and literacy would be, seeking to bring current
theoretical foundations about the process of acquisition of reading and writing
by deaf students enrolled in Early Childhood Education and Elementary School I.
We also approach the subject of writing and literacy and the role of the
literacy teacher. The research was developed with two teachers and pedagogical
support from CAS Mossoró, as they work with
specialized educational assistance to deaf students enrolled in the Education
modality of the municipal teaching network of Mossoró/RN.
The research will be of a qualitative nature, we will use questionnaires and
interviews as instruments of data collection, seeking from what approximate
answers say about your literacy practice. The study brought as approximations
that the teaching and learning process of literacy still occurs in a linear way,
when they deal with the meaning of this process in their practice, which is
shown as a hybrid understanding, due to the lack of knowledge in the sense of
the necessary articulation between students two processes.
Keywords: Literacy; Teachers; Deaf education.
Resumen
Este artículo tiene como objetivo comprender lo que los maestros dicen sobre sus habilidades de alfabetización. Con este fin, discutimos la historia de la alfabetización, acerca de lo que sería la alfabetización, buscando brindar los fundamentos teóricos actuales sobre el proceso de adquisición de lectura y escritura por parte de estudiantes sordos inscritos en Educación Infantil y Escuela Primaria I. También abordamos el tema de la escritura y la alfabetización y el papel del maestro en la alfabetización. La investigación la fue desarrollada por dos maestros con el apoyo pedagógico de CAS Mossoró, ya que trabajan con asistencia educativa especializada para estudiantes sordos inscritos en la modalidad de Educación de la red de enseñanza municipal de Mossoró/RN. La investigación es de naturaleza cualitativa, y utiliza cuestionarios y entrevistas como instrumentos de recopilación de datos, buscando, en lo que dicen las respuestas de los entrevistados, información sobre su práctica de alfabetización. El estudio ha concluido que el proceso de enseñanza y aprendizaje de la alfabetización todavía ocurre de manera lineal, cuando, en la práctica, abordan el significado de este proceso, que se muestra como una comprensión híbrida, debido a la falta de conocimiento en el sentido de la articulación necesaria entre los estudiantes y los procesos.
Palabras clave: Alfabetización, Educación para sordos,
Profesores.
Introdução
A fim de contribuir para o debate a respeito da aquisição da língua portuguesa pelos sujeitos surdos, exporemos uma síntese de alguns dos resultados de pesquisas que desenvolvemos, a respeito da questão da alfabetização e do letramento e, em particular, a respeito do ensino-aprendizagem da alfabetização e do letramento, com dois alunos da segunda fase da segunda etapa da educação infantil matriculados nas Unidades de Educação Infantil (UEI) no município de Mossoró e um aluno do primeiro ano e dois alunos do segundo ano do e no Ensino Fundamental I, também oriundos da rede municipal de ensino e atendidos pelo Centro Estadual de Capacitação de Educadores e Atendimento ao Surdo (CAS Mossoró). Na perspectiva de respostas aproximativas, nosso objetivo central consiste em compreender o que dizem os professores do CAS Mossoró da turma de Libras I, sobre a sua prática de alfabetizar e/ou letrar. Assim se constituiu o nosso objeto de estudo que conforme, vimos anunciando consiste no significado de alfabetizar e letrar para crianças surdas de quatro a seis anos de idade, em uma pesquisa de campo norteada a partir de fundamentos teóricos Ferreiro (2011, 2018, 2019); Freire (1990); Kleiman (2019); Soares (2011, 2013, 2014, 2016); dentre outros e para nos subsidiar na metodologia e análise de dados de nosso trabalho nos embasamos nos trabalhos de Campoy (2018) para análise dos dados.
Atualmente, sabe-se que o processo de aprendizagem é contínuo e nos acompanha sempre, da infância à velhice. Da mesma maneira ocorre com o processo de alfabetização, sendo este, considerado um processo permanente, que não se restringe à aprendizagem da leitura e da escrita e que juntamente com o Letramento tem forte influência na vida social das pessoas. Geralmente discute-se muito sobre educação de surdos, sobre o processo de alfabetização, sobre a aquisição da língua portuguesa na modalidade escrita e sua importância para as pessoas e para o país. Porém, se observarmos os investimentos que o Brasil faz, perceberemos que ele cresce muito a cada dia em tecnologia, em produção, em exportações, mas em proporções infinitamente menores, em educação. Nosso país é rico em diversos recursos, mas boa parte de sua população vive em condições precárias e recebem uma educação de baixa qualidade. Acrescido a isso, é muito comum escutarmos que o ensino da rede pública é inferior se comparado à rede privada. Mas por que isso acontece? Essa é uma pergunta complicada de ser respondida, já que se sabe que os recursos que deveriam ser usados na qualificação da educação ofertada nas escolas públicas geralmente não chegam a elas. Com isso, os alunos menos favorecidos, que não têm condições de frequentar uma escola de qualidade acabam enfrentando dificuldades para ingressarem no mundo letrado.
Pensando assim, na importância do processo da educação e do processo de alfabetização e de letramento no desenvolvimento do cidadão, é necessário compreendermos o que realmente significa alfabetização, considerando ainda que ela depende das características culturais, econômicas e tecnológicas em que cada sujeito vive devendo ser levadas em consideração cada uma destas características como fator relevante e diferencial na aprendizagem pessoal do aluno. Tem-se buscado conceitos diversos sobre letramento, já que este termo tem se modificado com o passar dos anos. No Brasil hoje, por exemplo, é considerado letrado aquele que é capaz de localizar, compreender e usar informações fornecidas por diferentes tipos de textos. No caso de crianças surdas com cinco anos de idade observar isto tornar-se diríamos um tanto complicado pela sua complexidade Porem estudos de Ferreiro (2019), Morais (2018), Jung (2017) e Tfouni (2015), demonstram que as crianças constroem hipóteses a respeito da escrita e da leitura, da mesma forma que o fizeram para a aprendizagem da língua oral. Assim em todo o momento em que buscam escrever algo, as crianças são colocadas à prova, pois necessitam pensar, questionar, sobre que ou quais signos devem representar o que vão escrever, como se comporta a organização desta escrita. É importante a mudança nessa concepção sobre a construção da escrita pela criança para que se entenda que a alfabetização acontece em um trabalho conceitual. As crianças, desde muito cedo, procuram compreender todas as informações que recebem, através dos textos, de outras pessoas, quer ao participar de atos sociais que envolvem leitura e escrita quer não, pois essa informação antecede o início da instrução escolar.
Todo esse processo tem início a partir do momento em que a escrita passa a ser foco de atenção da criança, por influência dos estímulos do ambiente cultural no qual ele está inserido. Quando começa a interagir com a língua escrita nos livros, jornais, revistas, quando tenta compreender o ambiente que cerca e vai se valendo do jogo simbólico para interpretar o mundo, operando com significantes e significados, a língua escrita passa ser considerada como um sistema de representação de língua falada/sinalizada. Assim, no momento em que a criança direciona sua atenção para ela, passa a ser vista como um objeto-substituto, em que um significante (sinal gráfico) corresponde a outro significante (sinal) e, ambos, referentes a um significado (pensamento elaborado). O processo em questão ira se constituindo pelos caminhos de formação do símbolo (mimese, simulacro), os quais, com o lúdico, a brincadeira e o jogo tornar-se-ão mais intensos.
Finalmente, ressaltamos que o desenvolvimento deste trabalho não se justifica pelos métodos, para alfabetizar e que por si só eliminem o fracasso escolar e analfabetismo. São posicionamento que colocam em evidencia fatores do processo de aprendizagem da língua escrita de que antes não se tinha conhecimento, ou seja, o entendimento dos processos pelos quais a criança passa no desenvolvimento e aquisição da língua escrita. Este sim é um conhecimento indispensável para educadores alfabetizadores que almejamos ter no nosso sistema educacional uma melhoria da qualidade da educação.
Dessa maneira o caminho metodológico percorrido abrangeu características da pesquisa de campo qualitativa com base em Campoy (2018), nessa dimensão definimos o campo da pesquisa em um centro de educação especial, que possui uma ampla experiência em educação de surdos e que possui como foco a alfabetização dos surdos e a aquisição indenitária. Definimos como sujeitos da pesquisa dois professores que lecionam na turma de Libras I e vem trabalhando, e o apoio pedagógico especializado que acompanha o trabalho destes sujeitos, fazendo um total de 3 sujeitos. Tendo em vista que a pesquisa qualitativa, segundo Campoy (op. cit) incorre na qualidade pela regularidade que distingue o rigor cientifico. O percurso da investigação constou da coleta de dados através de questionários e entrevistas, buscando a partir do que dizem respostas aproximadas a sua pratica de alfabetização. A seguir sistematizaremos a caracterização do campo da pesquisa e os sujeitos participantes.
Caracterização do campo da pesquisa e dos sujeitos
O
campo da pesquisa conforme já mencionamos constitui-se de 01 centro de educação especial, o CAS Mossoró, situada na zona urbana
do município de Mossoró, que atende aos alunos surdos matriculados tanto
da rede municipal de ensino, quanto
na rede estadual
de ensino. O CAS possui 180 alunos surdos matriculados provenientes de 12 cidades do Oeste potiguar. A seguir,
trazemos um quadro com os sujeitos da pesquisa
que foram dois professores definidos por estarem
lecionando na turma de Libras
I, com mais de dois anos de atuação e o apoio especializado que acompanha
os professores. Utilizaremos nomes fictícios para os sujeitos da pesquisa.
No que se refere aos sujeitos pesquisados, conforme anunciamos, todos trabalham com crianças na faixa etária de 5 anos de idade. Com relação à formação acadêmica dos sujeitos entrevistados o quadro acima identifica que todos possuem o curso superior e a competência necessária para o ensino de Libras.
Em decorrência da própria natureza do objeto de estudo, a pesquisa foi realizada sob a perspectiva da abordagem qualitativa justificada pelo entendimento de que a mesma se constitui numa estratégia que possibilita que os dados coletados sejam compreendidos de forma contextualizada e, ainda, por possuir um plano investigativo aberto e flexível como no-lo apontam as reflexões de Campoy (2018). Do ponto de vista dos procedimentos técnicos, a pesquisa será de campo. Neste sentido, constituir-se-ão em fontes primárias para a coleta de dados a observação de sala de aula e um questionário que será respondido pelos atores escolares. Mediante um primeiro contato, percebemos que o campo era permeado de peculiaridades e muito interessantes para a temática a ser explorada. No decorrer de nossas visitas, conseguimos estabelecer um diálogo mais aberto com os professores. Isso só veio a acrescentar quanto aos processos que desconhecíamos e aprofundamento dos fatores que teoricamente estudávamos.
As entrevistas ocorreram na sala de aula, onde foram esclarecidos os objetivos e como seria importante a colaboração para a conclusão desta pesquisa. Sendo de suma importância que elas desejassem participar para responder as perguntas relativas ao tema explorado. Após esclarecê-las sobre a temática do trabalho e sua finalidade, fizemos perguntas para conhecermos um pouco mais o perfil de cada um, no que tange a formação acadêmica. Em seguida iniciamos as entrevistas sobre questões da alfabetização e do letramento. As entrevistas foram transcritas, lidas, analisadas na perspectiva de extrair as categorias empíricas de análise que se fundamenta nas teorias de Ferreiro (2001, 2018, 2019), Morais (2018), Rego (2010) e Tfouni (2015), cuja ênfase esta do processo de alfabetização focado no discente e não no docente e destina- se a compreender o processo de apropriação do sistema alfabético de escrita, e como o aluno surdo atendido pelo CAS Mossoró é inserido na cultura escrita por meio do letramento.
Tendo em vista que a análise de dados da pesquisa qualitativa implica na busca de compreensão de um objeto que não se revela linearmente ao pesquisador, que precisa buscar estar desprovido de convicções, crenças, pressupostos, o que requer um exercício de vigilância epistemológica, consideramos que os dados aqui analisados de onde emergiram as categorias a que os referiremos a seguir consistem em aproximações que julgamos críticas, ao objeto de estudo. Dessa maneira, as categorias empíricas consistem em: conceito de alfabetizar: Alfabetizar como ensino de leitura de mundo; Alfabetizar como um processo de representação e de ressignificação para compreender o mundo; conceito de letrar: Letrar como sinônimo de alfabetizar; Letrar como convívio com as práticas de leitura e da escrita e por fim traremos alfabetizar e letrar a partir dos conhecimentos prévios e a partir de histórias orais e alfabetizar e letrar como democratização das práticas de leitura e de escrita
A análise da primeira questão da entrevista revelou que os professores tem um conceito de alfabetizar como sendo um ensino de noções básicas de leitura e de escrita pela criança, como veremos a seguir:
“E fazer com que o menino saia com noções básicas de leitura e de escrita” (Paola).
Para esta professora, a alfabetização é confundida com a escolarização. Conforme Teale (2018) a pratica de alfabetização não é meramente a habilidade abstrata para produzir, decodificar e compreender a escrita; pelo contrário quando as crianças são alfabetizadas, elas fazem usos da leitura e da escrita na execução das práticas de sua cultura. Porem devemos lembrar-nos como nos diz Tfouni (2015) que de fato, a alfabetização está intimamente ligada à instrução formal e às práticas escolares, visto próprias hipóteses. Por esse motivo, é que muitas vezes confundimos o processo de alfabetização como se ele fosse idêntico aos objetivos propostos pela escola. Como afirma Giroux (2018, p. 59), “a relação entre alfabetização e escolarização torna-se clara se considerarmos que, embora a criança possa primeiramente entrar em contato com a linguagem através da família, é principalmente na escola que alfabetização se consuma”.
Quando analisamos a fala de Pablo percebemos que ele tem uma visão de educação emancipadora, quando ao falar sobre sua prática de alfabetização se coloca na função orientador e não de professor afirmando:
“É conduzir o aluno a uma nova experiência, permitindo que perceba o mundo com seus olhos e não com a visão do mundo” (Pablo).
Para este professor esta nova visão só será possível se o ato de alfabetizar passar a existir em um ensino e aprendizagem de “mão dupla”, não sendo capaz de desconsiderar o papel do aprendiz.
Com relação ao sujeito Sandra, percebemos que compreende o ato de alfabetizar como ensino de um sistema de representação da escrita, ou seja, a alfabetização consiste no aprendizado de:
“Seria um processo de representação de fonemas em grafemas (escrever) e de grafemas em fonemas (ler), com compreensão de significados, ou seja, substituições gradativas (ler um objeto, um gesto, uma figura ou um desenho, uma palavra) em que o objeto primordial é a compreensão de mundo respeitando suas características culturais, econômicas e tecnológicas” (Selma).
No que concerne ao que diz o sujeito Selma quanto a alfabetizaçao como um sistema de representação da escrita, percebemos uma ideia muito parecida com a de que alfabetizar é fazer com que o sujeito reflita sobre a língua e assim construir suas Smolka (2011) de que as letras escrita no papel são símbolos, porem ela não deixa claro como este processo de relação simbólica se dá, para que assim a criança comece a ler, pois segundo Lemle (2019) para que uma criança compreenda o que seja uma relação simbólica entre dois objetos ela precisa primeiro entender o que seja um símbolo, para assim compreender que cada letra vale como símbolo de um som de fala.
Conforme o que podemos observar na fala, o apoio pedagógico ressalta a importância da alfabetização. Tendo em vista uma relação diretavista. Nos trabalhos de Ferreiro (2011, 2018, 2019) a escrita da criança não resulta de simples cópia de um modelo externo, mas é um processo de construção pessoal. Ferreiro (2019) percebe que de fato, as crianças reinventam a escrita, no sentido de que inicialmente precisam compreender seu processo de construção e suas normas de produção.
A diferença entre alfabetização e letramento tem sido discutida no Brasil a partir do trabalho de Soares (2011, 2016), que sistematizou essa discussão no livro Letramento: um tema em três gêneros. Mas temos também valiosas contribuições de outros pesquisadores como Kleiman (2019), que foi quem inaugurou aqui a discussão sobre a pesquisa em letramentos, entre outros autores. Ao analisamos as falas de nossos sujeitos percebemos que a sua compreensão do alfabetizar e letrar são bem definidas e claras, compreendendo o que cada uma significa, vejamos:
“(risada) são coisas completamente diferentes. Afinal é possível letrar o aluno surdo através da Libras e não alfabetiza-lo, pois a aquisição da escrita é um processo mais lento do que dos sinais” (Paola).
“É dá significado ao contexto colocando as letras no contexto e não de forma solta, não é só ensinar a decorar, mas ver que as letras têm um significado, som e utilidade. É saber fazer o uso da linguagem propriamente dita, compreender a cultura construída historicamente pelos homens e, sobretudo, é fazer-se compreender através da linguagem” (Pablo).
Em linhas gerais, podemos resumir essa diferença como uma necessidade. Distinguir alfabetização e letramento é necessário para que, por um lado, não se percam especificidades ligadas à apropriação da tecnologia da escrita, entendida como alfabetização, e, por outro, a continuidade e manutenção de usos sociais da escrita e da leitura, o letramento. Segundo Soares (2016), o processo de letramento se inicia antes mesmo do processo escolar de alfabetização, nas culturas letradas. É bom ressalvar que “cultura letrada” tem um sentido amplo que vai muito além da cultura que está nos livros. Segundo Soares (2014), de modo mais abrangente, “cultura da escrita”, que engloba todos os modos de interagir em sociedade por meio de textos escritos. Afirmamos que alfabetização e letramento devem caminhar juntos, porém não devendo ser confundida, pois é muito pouco para o exercício da plena cidadania apenas saber ler e escrever, decodificar as letras, “[...] nas sociedades letradas; ser alfabetizado é insuficiente para vivenciar plenamente a cultura escrita e responder às demandas de hoje” (Soares, 2011). É preciso saber usar a leitura e a escrita em práticas sociais que a requeiram com autonomia e criticidade.
Ao analisamos o modo como estes professores alfabetizam letrando seus alunos percebemos na fala deles que o fazem de uma maneira que valorize o conhecimento prévio do aluno.
“É levar em conta o que o aluno traz com ele, tem
muito professor que só quer seguir o livro, mas o principal que é a bagagem do aluno ele despreza e não considera os seus conhecimentos prévios” (Paola).
“Valorizando o conhecimento
do aluno, contextualizando e sistematizando os conteúdos
a ser dado” (Selma).
“Utilizando
o que eles têm em mão, não com livros,
pois o mundo é cheio de letras
e eles chegam para nos cheio
de conteúdo. Estão utilizo
rótulos de produtos, jornais,
revistas etc., para eles pesquisarem a letra do sinal, isso através da brincadeira, pois a vida deles é uma brincadeira” (Pablo).
Na nossa sociedade, o nascimento de um indivíduo deve ser comprovado por um registro escrito. Esse pequeno exemplo já é significativo do que estamos compreendendo como cultura escrita. Outro aspecto que não se deve perder de vista é que oralidade e escrita mantêm-se num contínuo. Os gêneros orais e escritos que usamos integram-se numa rede de correspondências e trocas de acordo com as situações em que usamos a linguagem. Os professores dizem que alfabetizam letrando partindo do contexto do aluno, no período de observação podemos perceber como esse processo ocorre, os professores utilizam-se da Libras que é a L1 do sujeito surdo para a partir dela introduzir o sistema gráfico.
Ao falar da importância percebemos que Selma enxerga a alfabetização e letramento como fator primordial para que se democratize as práticas de leitura e de escrita.
“Democratizar a vivencia de práticas
de uso da leitura e da escrita e ajudar
o estudante a reconstruir essa
invenção social que é a escrita alfabética, ativamente” (Selma).
Para o Selma ser letrado é conviver com as práticas sociais de leitura e de escrita, isso fica-nos evidente quando analisamos a resposta dada a 2º questão.
“E conviver com as práticas de leitura e escrita não sendo necessariamente uma pessoa letrada ao que domina apenas a pratica de escrever” (Selma).
Letramento é segundo Cook (2017) a habilidade de colocar em ação todos os comportamentos necessários para desempenhar adequadamente todas as possíveis demandas de leitura. O processo escolar é apenas o início dessa formação, e, como o que vem antes serve de base para o que vem depois, é preciso que o professor se dê conta de todas as possibilidades e implicações deste momento da formação de seus alunos. Ao analisarmos a vivencia do aluno surdo com seus colegas, percebemos que, de forma peculiar a sua condição eles demonstram possuir características de grupos letrados, mesmo sem serem alfabetizados, mostrando-nos que apesar de andarem juntos a alfabetização e o letramento não podem ser confundidos.
A condição de sujeito letrado se constrói nas experiências culturais com práticas de leitura e escrita que os indivíduos têm oportunidade de viver, mesmo antes de começar sua educação formal. Sabemos que crianças surdas que vivem em ambientes letrados não só se motivam precocemente para ler e escrever, mas começam, desde cedo, a poder refletir sobre as características dos diferentes textos que circulam ao seu redor, sobre seus estilos, usos e suas finalidades. Disso deriva uma implicação pedagógica fundamental: para reduzir as diferenças sociais, a escola precisa assegurar a todos os alunos, diariamente, a vivência de práticas reais de leitura e produção de textos diversificados. Se a expressão “práticas” já foi usada muitas vezes neste texto, isso não foi aleatório. Democratizar o acesso ao mundo letrado não significa encher a sala de aula de recortes de jornal, rótulos, embalagens, cartazes publicitários e colocar livros numa estante. Pressupõe, isto sim, que o aprendiz possa vivenciar, no cotidiano escolar, situações em que textos são lidos e escritos porque atendem a uma determinada finalidade.
Considerações finais
Partindo da premissa que a alfabetização e letramento devem caminhar juntos, pois é muito pouco para o exercício da plena cidadania garantido pela Constituição federal (1998) apenas saber ler e escrever, decodificar as letras, “[...] nas sociedades letradas; ser alfabetizado é insuficiente para vivenciar plenamente a cultura escrita e responder às demandas de hoje” (Soares, 2013, p. 45). É preciso saber usar a leitura e a escrita em práticas sociais que a requeiram com autonomia e criticidade dissociada de textos escolares. A Educação Infantil é apenas o início dessa formação, e, como o que vem antes serve de base para o que vem depois, é preciso que o professor se dê conta de todas as possibilidades e implicações deste momento da formação de seus alunos.
A alfabetização é um processo de natureza complexa e está cercada por sentidos diversos e distintos. Assim, é papel do educador perceber que qualquer sistema de comunicação escrita é profundamente marcado por atitudes e valores culturais, pelo contexto social e econômico em que é usado, sendo diferente em cada contexto e, que em decorrência destes contextos distintos, cada aluno tem seu tempo para aprender, para se alfabetizar e para se letrar, que deve ser respeitado pelo docente. O professor deve levar em consideração todas as concepções que envolvem o processo da alfabetização e do letramento, para que assim, seja possível concretizar uma práxis coerente de aprendizagem, que nem culpe o professor ou o aluno, nem os métodos, nem o contexto no qual estão inseridos e nem muito menos o sistema escrito por não dar-se bem; mas que trabalhe para que se ponha em prática um processo de alfabetização de qualidade para o aluno, buscando sempre fazer com que este mesmo (o aluno) torne-se letrado e inserido numa cultura esferográfica, objetivando também, proporcionar uma educação de qualidade.
Os sujeitos pesquisados já trazem na sua fala elementos importantes no processo de alfabetizar letrando, conforme a nossa análise os sujeitos explicitam a relação dialética entre processo de alfabetizar letrando na sua prática, o que efetivamente desenvolvem em sala de aula e, especialmente, o movimento de reflexão e metareflexão que as crianças estabelecem na construção desse sistema, no que se refere ao processo de apropriação e, sim, pontuações, mas não ainda explicações críticas como ocorre o processo. Dessa maneira há uma compreensão ainda híbrida do processo. Além disso, é importante não esquecermos também, de que o processo de aprendizagem da leitura e da escrita exige planejamento de quem leciona, levando em consideração a diversidade e a sequência lógica das atividades propostas. Para tal, os conhecimentos prévios são importantes, mas se faz necessário propiciar o acesso, a reflexão acerca do escrito nas suas diversas funções, compreendendo que o alfabetizar é diferente do letrar, embora sejam complementares e ou mesmo indissociáveis.
Por fim, acrescentamos que não é somente o professor que tem papel essencial no processo de alfabetização e de letramento do educando, é também dever do Estado independente da instância, deve proporcionar, através da educação, o acesso de todos os cidadãos ao direito de aprender a ler e a escrever, possibilitando assim, o direito à aprendizagem como uma das formas de inclusão social, cultural e política, construindo a democracia e possibilitando a todos, maiores oportunidades de vida e, maior qualidade na educação.
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